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Saúde 5.0: Quando humanizar se torna o foco

Na era dos robôs e da IA, o toque humano volta a ser essencial. 

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Robôs em cirurgias, Inteligência Artificial fazendo diagnósticos e softwares que aceleram exames já são realidade em hospitais brasileiros. A medicina avança rapidamente com o apoio da tecnologia, mas uma questão inquieta profissionais e pacientes: como manter o cuidado humano no centro do tratamento?

A chamada Saúde 5.0 propõe exatamente isso, um modelo que integra as inovações da era digital sem perder de vista a empatia, a escuta e o vínculo entre médico e paciente.

De onde viemos: da indústria 4.0 à medicina digital

As revoluções industriais transformaram profundamente a forma como a sociedade trabalha. Máquinas a vapor, eletricidade e automação mudaram fábricas, cidades e hábitos. Mais recentemente, a 4ª revolução industrial, também chamada de indústria 4.0, trouxe avanços como inteligência artificial, computação em nuvem e robótica avançada.

Essas inovações não ficaram restritas ao setor produtivo, chegaram com força à medicina. É o que chamamos de Saúde 4.0, marcada por maior eficiência, digitalização de dados e precisão técnica.

Um exemplo concreto é o Hospital Israelita Albert Einstein, em Goiânia, que em 2024 ultrapassou a marca de mil cirurgias realizadas com o auxílio da robótica. A combinação entre a experiência dos cirurgiões e a precisão das máquinas representa um salto na qualidade do atendimento.

Outro caso é o de um estudante da Universidade Estadual de Maringá¹, no Paraná, que desenvolveu um software baseado em Inteligência Artificial para acelerar o diagnóstico de doenças como a malária e a doença de Chagas. A ferramenta promete encurtar prazos e ampliar o acesso a diagnósticos mais precisos, especialmente em regiões com poucos recursos.

O custo da eficiência: onde ficou a empatia?

Apesar dos avanços, especialistas apontam que a digitalização da saúde trouxe também um efeito colateral preocupante: o risco de desumanização do atendimento.

A Saúde 5.0 ou Saúde do Futuro surge como uma resposta crítica à visão tecnicista da medicina. Ela defende que o tratamento eficaz não depende apenas de máquinas ou medicamentos, mas também da qualidade da relação entre médico e paciente.

Um dado relevante vem de uma meta-análise publicada no Archives of Internal Medicine², que mostrou que médicos com baixa capacidade de comunicação têm 19% mais chances de ver seus pacientes abandonarem o tratamento. Ou seja, a forma como o profissional se comunica tem impacto direto na adesão terapêutica.

Outro estudo, publicado no periódico JAMA Network Open³, revelou que a empatia médica pode melhorar significativamente os desfechos clínicos, em alguns casos, com efeitos comparáveis ou até superiores ao uso de medicamentos como opioides ou a realização de procedimentos cirúrgicos, dependendo da condição tratada.

Tecnologia e humanidade andam lado a lado

Defender a saúde 5.0 não significa rejeitar as tecnologias. Ao contrário: trata-se de usar a inovação como uma aliada do cuidado humano, não como sua substituta. A medicina do futuro é inevitavelmente tecnológica, mas se quisermos que essa revolução realmente beneficie a sociedade, precisamos que a pessoa continue sendo o centro de tudo. 

O desafio é garantir que, mesmo em um mundo de algoritmos e robôs, o paciente continue sendo tratado como um ser humano completo, com corpo, mente e emoções. A escuta ativa, o acolhimento e o vínculo entre médico e paciente seguem sendo, como sempre foram, elementos indispensáveis da cura.

Novas oportunidades

Falando nisso, o Programa de Educação Permanente em Saúde da UFPA está preparando um Workshop sobre a Saúde do Futuro, ficou interessado? Saiba mais e se inscreva no link abaixo. 

WORKSHOP SAÚDE DO FUTURO 

Referências

[1] COSTA, Marileyde. Aluno da UEM vence hackathon com projeto de IA para diagnosticar doenças. Notícias Uem, 08 de jun. 2025  Disponível em: <https://noticias.uem.br/index.php?option=com_content&view=article&id=30299:aluno-da-uem-vence-hackathon-com-projeto-de-ia-para-diagnosticar-doencas&catid=986&Itemid=211>. Acesso em: 2 jul. 2025.

[2] ZOLNIEREK, K. B. H.; DIMATTEO, M. R. Physician communication and patient adherence to treatment: a meta-analysis: A meta-analysis. Medical care, v. 47, n. 8, p. 826–834, 2009. 

[3] LICCIARDONE, J. C. et al. Physician empathy and chronic pain outcomes. JAMA network open, v. 7, n. 4, p. e246026, 2024.